sábado, 28 de novembro de 2009

Johnny e os Anjos

Acabei de ler o livro “Meu nome não é Johnny” (Guilherme Fiuza). Bacaninha, uma história de drogas, loucuras e sorte. Até na tragédia o cara se deu bem. Curtiu todas, permeou pelas noites rock roll das décadas de 80 e 90 no melhor estilo carpe diem. Enfim, foi flagrado por seus atos. E a punição: foi uma benção.
Teve a sorte de nascer numa família em ascensão, que saiu do aluguel para casa própria no melhor estilo. Passou a adolescência nas praias da zona sul. Curtiu a comunidade alternativa nos auges dos 20 anos. Não perdeu tempo em burrocracias e carteiras acadêmicas, foi direto ao topo sem sentir o peso do tempo. Um jovem sem limites e com um anjo da guarda, que apesar de ter muito trabalho, deu conta do recado. Vários de nós temos esses anjos da guarda, gostaria de saber o que faz um ser ter esse privilégio e outros não.
Uma constatação, claro que não fiz pesquisa pra isso, algumas pessoas passam pela vida e se dão bem. Sempre que tudo parece que vai desmoronar, aparece uma luz no fim do túnel, uma janelinha que se transforma na Porta da Esperança. Por mais errado e inconsequente que suas ações poderiam ser, no final, tudo deu certo. Como? Não sei. Só pode ser o anjo da guarda.
Em contrapartida há os que só se ferram. No livro mesmo tem um coitado que pega 8 anos de prisão porque estava na hora e lugar errados. Ele vai comprar um baseado e é pego em flagrante com um mega traficante. Muito azar. Pai de família vê sua vida se esvair, e com isso fica louco. Quem não ficaria? O que acontece com os anjos da guarda dessas pessoas? Será que isso é uma resposta para algum tipo de perversidade? Porque olha só, a história desse cara eu não sei, o livro só diz que ele é pai de família, sua profissão e que fumava uns baseados, mas não comenta sua índole, a não ser seu comportamento dentro da prisão. Já o João (seu nome não é Johnny) é um gente boa, mas ingênuo e está sempre na hora certa, no lugar certo e sempre aparece a pessoa certa. Pelo livro é uma pessoa com um bom coração e com sede de emoções. E como as emoções não são assim muito frequentes de forma simples, ele apela para sua criação. Apenas isso.
E ele gosta destas fortes experiências. Até porque viver 10 anos a 1000 e de repente mudar para 1000 anos a 10 não é fácil. É necessário algo maior para fazer a transferência: uma interferência divina, só assim para haver essa troca de conceito de vida. E não adianta dizer que esses 10 anos não serviram pra nada, isso só é escutado depois do 11° ano.
Bem, no final das contas, João é pego pelo tráfico de drogas pela Polícia Federal, mas em vez de ele se ferrar, como qualquer ser desprovido de beldades angelicais, ele passa por mais uma aventura, desta vez careta, logo percebe melhor os perigos. Mas na verdade ele se dá bem, pois consegue com a ajuda de seres que aparecem na estrada da sua vida e muda seu rumo antes que seja tarde demais.
E assim como num conto de Fadas: Todos são felizes para sempre. Porra, além de dar tudo certo pro cara, ele virou uma celebridade. Com direito a filme super produção, livro e tal. Ah, fala sério!
O livro é escrito corretamente, gostei até do fato de explorar a criação de personagens pela mídia. Johnny nunca existiu. E isso é apenas um exemplo. Já pensou em todas as estórias criadas a partir de histórias? Não são poucas, aliás, acredito que todas, já que os jornalistas sempre terão um ponto de vista próprio e logo estão dando o próprio olhar quanto a um fato. Todas as notícias são irreais. O próprio livro é apenas parte de relatos de algumas pessoas que presenciaram, viram e sentiram de maneira pessoal (o cara vivia doidão, quanta coisa você acha que ele lembra?) Absurdo? Pense bem. O que você vê é diferente, nunca é a mesma coisa que o outro. Ou você pode ver isso de maneira diferente da minha.
Não gostei muito das citações musicais, achei meio fraco. Poderia ter explorado mais. Mas deve ser esse o ambiente sonoro que o personagem descreveu.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

TETRA PAK E O LEITE DE CAIXINHA

Não tem muito como escapar, a Discovery Kids invade nossa casa quando temos uma criança pequena. Sabe aquele canal em que passamos reto enquanto não somos mães? Pois é, atualmente já sei de cor a programação e as músicas fazem parte do meu repertório.
O canal não é de todo mau. Alguns desenhos são até interessantes e acho bom ter algo que distraia minha pequena. Mas tem algumas coisas que me deixam com um pé atrás. No texto anterior citei a música: “diferentes mas com o mesmo coração”,
porém tem mais algumas coisas que são, no mínimo, tendenciosas. Além de ter muito comercial. Poxa, é um canal pago, direcionado à crianças com idade de 0 a 6 anos (acho que os mais grandinhos já se interessam por canais como nickelodeon ou cartoon) que estão formando o caráter, então é no mínimo canalhice empurrar esse comércio à elas. É empurrar mesmo, enfiar goela abaixo. Compre ou você será infeliz. Ainda bem que estou presente e posso explicar tudo que se passa, estar próxima para que minha filha não seja mais uma subordinada televisiva.
Mas tá, sabem outra propaganda que me deixa abismada, a do Tetra Pak. O tal do Doki (um cachorro que faz as vezes de apresentador do canal) diz que quer ter uma vaca em casa para que nunca falte leite. E aparece uma vaca que fala (a vaca fala, é um desenho) para ele não beber leite sem ser de caixinha. Pois precisa passar pelo processo de esterilização antes. Tudo bem eles quererem puxar pro lado deles, mas dizer que não pode é outra coisa. Sei lá, digam que é mais gostoso o leite de caixinha, até mesmo mais seguro. (Tudo isso é mentira, mas é menos ridículo do que dizer: não pode)
Beber leite sem ser de caixinha é natural. Mas a nossa sociedade, graças as grandes indústrias, defende a ecologia mas passa longe do que não seja industrializado, esterilizado. A empresa usa o mote: "Sem perceber, você transforma o mundo com a Tetra Pak" e defende a reciclagem, mas em contrapartida faz com que seu filho cresça com medo do que vem da terra, da natureza.
Será que os marketeiros desta empresa não têm noção do que fazem? Acho que têm. Tomara que paguem por isso de alguma maneira. A mãe natureza não deixará isso barato.
Outra coisa, os leites de caixinha são esterilizados, os de saquinho tem muito mais nutrientes, porém estragam mais facilmente. Logo não se pode comprar para deixar estocado em casa, mas pela sua vitamina vale a pena ir ao mercado ou na padaria diariamente. Mas isso não é cômodo. Agora, se você pode ter uma vaca, melhor. Lembro quando ia para a casa da minha vó e tomava o leite direto da vaca, sem ferver (acho que isso pode não ser muito aceito atualmente), mas geralmente minha tia fervia em um balde. Nunca passei mal por isso. Era uma delícia, aquele leite com gosto de leite e não aguado como os de hoje. Preciso levar minha filha lá para experimentar essas maravilhas que nos centros urbanos parecem aberrações.
(O canal também tem coisa boa, mas falarei desse outro aspecto em outro texto).

sábado, 21 de novembro de 2009

Somos diferentes, mas com o mesmo coração

Já ouviram a música de campanha da Discovery Kids(canal infantil)? Somos diferentes mas com o mesmo coração? Pois é, achei absurdo. Então podemos ser diferentes desde que sejamos iguais?
É incrível como conseguem fazer uma manipulação tão facista de uma maneira tão engraçadinha, inocente.
É comum escutar: temos que aceitar o diferente; ser diferente é normal. Mas em contrapartida, quando alguém faz algo diferente é julgado e condenado, sem direito a fiança.
Não digo o “diferente normal”. Esses que vemos nos adolescentes rebeldes. Isso é clichê. Mas questionar as condutas ditadas por especialistas que dão entrevistas nos telejornais, por exemplo. Tente por exemplo dizer por aí que você é contra o óleo vegetal e prefere cozinhar com banha de porco? - Nossa, você quer matar sua família de colesterol? É, isso é ser diferente. Ou tente debater assuntos tabus; como por exemplo o aborto. Ou se é a favor – e aí você é um criminoso; ou se é contra – aí é contra o feminismo. É 8 ou 80. Ou se está certo ou errado. Ou é bom ou é mau.
Interessante, né?
A realidade é mais do que duas opções, ela é ampla. E outra coisa, o diferente é diferente. E não falo de cor, raça. Mas quem sabe de credo, idéias, gostos, de bons e maus. Esse diferente também não precisa ser aceito, como não precisa ser repudiado. Com a diferença se aprende, mesmo que sem aceitação.
O que a DK tenta fazer é impor de todas a maneiras o american way of life. Já fizeram isso, eu sei, mas agora é desde o berço e com uma mensagem que se você não prestar atenção, vai achar socialmente correta (existe algo socialmente correto? o que é certo pra uns é errado pra outros). Até parece que o objetivo é instaurar o Admirável Mundo Novo (Aldous Huxley - 1932) sem soma e sem nada, no seco. Pior que a massa achará isso o máximo. Bem, eu prefiro ser exilada!