quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

É cada uma que a gente escuta...

Por Luiz Geremias


Andei por aí, perguntando aqui e ali, sobre o que aconteceu na passagem dos meses de novembro e dezembro no Rio de Janeiro. Ouvi de tudo. De elegias às unidades pacificadoras, às UPPs, até absurdos, como o que relato em seguida.

Um amigo maldoso me disse, diretamente do Rio, que a última palavra sobre a tal “guerra do Rio” do fim do ano ainda não foi dada. Segundo ele, que, tudo indica, crê ter essa última palavra na manga, o que ocorre é uma estratégia comercial, puramente pautada por interesses econômicos.

As tais UPPs, segundo o cético, não têm nada a ver com nada na história. Seriam como os CIEPS: com boa visibilidade e elevada moral, mas, na prática, não passam de ocupações policiais em um pequeno número de comunidades pobres.

O pernóstico amigo do Rio me garante que Garotinho chegou perto na conclusão, mas não disse tudo. Ou não sabe tudo, para ele.

Na prática, haveria uma arrecadação maior por parte dos traficantes, mas de determinados traficantes. Outros, estariam, como Garotinho disse, sendo intimidados e devem, se possível, ser dizimados. Tudo em nome, veja você, de “um verdadeiro fim” da guerra nas favelas via o estabelecimento não de um Estado paralelo, como a imprensa diz quando trata das quadrilhas desorganizadas das favelas, mas de um Estado unificado na gestão do crime.

Difícil acreditar nisso, respondi ao amigo. Estaríamos falando de uma nova e maquiavélica – no mau sentido – estratégia política para a resolução do problema: não haveria mais “poder paralelo”, mas somente um poder, tomando conta, inclusive, do comércio de drogas. Um Estado não pode fazer isso, garanti. Por mais que se imagine que a imprensa faça ouvidos de mercador, ou que seja comprada facilmente, por mais que se imagine isso, não haveria como deter que alguém, como ele, o amigo carioca, percebesse a trama e fosse atrás de indícios.

E mais: seria uma inimaginável insensatez, uma abominável postura aética que não se pode sequer imaginar. Levantar essa hipótese é possível. Mas, seguir nela é loucura, assegurei.

“Você é um tolo”, disse ele. “Acredita em Papai Noel e coelhinho da Páscoa”, falou. “Eu, por mim, vou ver se consigo entrar nessa. Quem sabe se crie uma secretaria para gerenciar os negócios”, disse, zombeteiro. Antes de bater o telefone na minha cara, sentenciou: “Lembra que o governador defendeu a liberação da maconha no início do governo? Pois está fazendo isso. Nós, cariocas, somos inovadores, mané”. E desligou, aparentemente cheio de si. 

Fiquei estupefato ao saber que alguém pode imaginar tamanho absurdo. 

A imagem do início do texto é para você que leu este texto até aqui e resolveu "pensar" que meu amigo pode até "ter alguma razão".