sexta-feira, 19 de maio de 2017

Reflexões

Já escrevi sobre a profissão de jornalista na primeira década deste milênio, deve ter uns dez anos. Construí outro pensamento nestes últimos tempos. E, após alguns desafios superados, vejo como uma profissão que busca um rumo após a cultura digital estar mais desenvolvida e ter transformado todos os seres humanos em potenciais comunicadores. Comecei buscando obras do milênio passado, nas quais McLuhan dizia ser o meio a mensagem, com Negroponte, rebatendo essa afirmação, pois, para ele, o meio deixa de ser mensagem nesta nova cultura devido à maleabilidade dos meios digitais. Prefiro seguir o Negroponte, mesmo ainda estando no começo do livro no qual ele fala sobre bits e descreve as formas pelas quais a notícia chegará aos reles mortais. O cara previu o Facebook... ou algo semelhante.

Voltando à profissão de jornalista, acompanho essas mudanças impulsionadas pelas revoluções tecnológicas, até por motivos de sobrevivência, e me assusta, claro, a percepção de que qualquer ser humano, desde a mais tenra idade, já possa produzir material digital e publicá-lo, transmitindo opiniões, notícias ou o mais básico entretenimento. E a internet está cheia disso por aí. Quando eu estava à procura de influenciadores e micro influenciadores na área de educação, li uma matéria (ou algo parecido com isso) sobre o workshop de influenciadores kids. Crianças com menos de 10 anos com canais de youtube que têm seus sei lá quantos seguidores. É isso! Qualquer um que saiba se comunicar pode estar na internet, ou nem precisa se comunicar, nem precisa ser humano... pode ser uma capivara! E aí o bicho pega! Por que cargas d`água nós, jornalistas, somos necessários? (Para criar as capivaras... dãããr)

Para falar sobre tal necessidade ilustrarei com fatos atuais e outros nem tanto. Ótimo! Pois estamos passando por uma crise moral na política brasileira e, apesar disso não ser novidade, é uma boa hora para analisar o nosso trabalho e qual a necessidade da nossa existência. Ontem, após a denúncias sobre propinas do Temer e do Aécio, resolvi deixar na Globo News para acompanhar as notícias sobre o caso. A cobertura passou o dia inteiro repetindo o mesmo fato com algumas palavras diferentes. Já desenhou, ilustrou... Existem tantos outros assuntos... Tanto existem, que troco de canal. A internet pode me manter atualizada e não preciso escutar o mais do mesmo. 
Na internet, encontramos diversos meios de comunicação, com ótimos jornalistas. Valor Econômico, Nexo, Brasil de Fato, imprensa local, rádios e web, buscam furos, às vezes acertam barrigas, mas têm muito conteúdo. Às vezes, é difícil saber o que é verdade. Muitos memes, uma variedade incrível de memes e dá pra desenhar a história do Brasil (e do mundo?) nestes últimos anos só por eles. Sim, há vida inteligente por aqui, é só pesquisar. O problema é como se sustentar nessa avalanche. Até porque, e isso já está sendo amplamente estudado, as notícias mais compartilhadas nesta segunda metade da década são fakes. Não que os grandes jornais já não tivessem formas variadas de pautar a opinião pública com inverdade, isso apenas ficou bem mais descarado e não precisa mais de jornalista pra isso. 

Aí vem essa história de pós-verdade e estamos vivendo uma era meio maluca, na qual o liquido já virou gasoso e perdeu-se por aí. Mas é aí que entra nossa querida e estimada profissão, os sérios, éticos, aqueles que resolveram fazer jornalismo porque acreditam na informação como agente transformador e essencial para a democracia. Estou em busca de informações sobre isso! Mas no meu primeirinho degrau, percebo que é preciso ser mais do que comunicador, mas saber de comunicação como ciência, não apenas como técnico. Escrever um lead, fazer uma chamada, um vídeo, ter um canal multimídia é algo banal, literalmente coisa de criança. Vamos precisar ser verdadeiros comunicólogos e estudar não apenas os meios, mas tecnologia e as humanidades, psico, sócio e antropologia. Construir uma ponte, de forma rápida como os memes e que chegue à população antes da banalização do assunto, para, assim, ser consumido como se consome a praga do entretenimento. 

Comunicação Institucional
Os dois exemplos citados não foram estudados a fundo, farei isso nos próximos degraus, mas cito como impressões minhas...

A Prefs, de Curitiba, na equipe da gestão passada, pode ter feito esta ponte com a fanpage. Acredito que foi uma boa tentativa, que no nosso meio virou case de sucesso, mas que, apesar de ter atingido a população mais jovem, ganhando notoriedade e um alcance inimaginável como página institucional. Porém, e na época trabalhava com secretarias municipais, por isso essa impressão, teve como protagonista o entretenimento e a instituição prefeitura ficou como coadjuvante. Vários programas oficiais do município não chegaram a uma parcela significativa da população.

Outro caso aconteceu na atual gestão, a comunicação oficial da prefeitura soltou uma notícia sobre suicídios de adolescentes ligados a um jogo chamado Baleia Azul e, sendo uma instituição pública, pode ter dado permissão aos meios de comunicação de falar sobre o assunto (falou-se repetidamente, incansavelmente, as mesmas coisas). Em dois dias, falou-se tanto sobre algo tão tenebroso, causando um mal estar geral, e após esse período o tema evaporou. Quando o assunto enfim ganhou embasamento, que poderia gerar um debate sério e eficaz, já estava tão cansativo, que perdeu o gás. 

Citei esses dois casos como exemplo de responsabilidade social e o poder das instituições públicas como agentes de comunicação. Ambos tiveram amplo alcance e foram ovacionados pela população e, principalmente, por colegas. Claro que sou do contra e pretendo trazer um outro olhar.  

Esses dois "cases" (adoram essa palavra, rsrs) demonstram a responsabilidade do jornalista institucional perante a sociedade e suas mudanças. Como assessora de imprensa de uma entidade tradicional, compreendi que é necessário não entrar nas nuances das redes sociais, mas compreender seus mecanismos e tentar transformar esse meio no canal com o público alvo, até porque os meios de comunicação tradicionais estão mais interessados em repetir assuntos sensacionalistas e não decodificar mensagens complexas, ou seja, se há diferença entre instituições, cada uma é responsável por uma demanda e que há regras a serem cumpridas, isso não interessa ao mainstream, logo não será pauta no jornal do meio-dia. Esqueça que seu público-alvo terá acesso a essas informações e nem sei mais se se interessam por elas, mas questionam a serventia da instituição. Tratar esse público de forma infantil poderia ser a autorização oficial para essa população isentar-se das suas responsabilidades como cidadãos. Não acredito que a longo prazo isso possa ser benéfico para a sociedade. Então, como desenvolver algo que não seja banal e que conquiste esse público? Não é fácil, eu sei...mas se fosse fácil, não teria graça e eu não teria feito textão!

segunda-feira, 1 de maio de 2017

Dia do Trabalho e os Workaholic

Acabei de explicar o porquê do dia 1 de maio pra minha filha. Pode parecer utópico para os dias de hoje, quando trabalhar compulsivamente, ou ser workaholic, tornou-se cool (posso já estar ultrapassada). 

Já vemos reflexos desse nosso comportamento quando a OMS declara que a depressão é o tema da campanha do dia da saúde, que ocorreu no dia 7 de abril deste ano, por ser a principal causa de incapacidade em todo o mundo, além de contribuir para a carga global de doenças. Logo, as conquistas do dia do trabalho, que era diminuir a carga de 13 para 8 horas, tinha um porquê prático, a nossa saúde mental, e na época também física (será que estou tão ultrapassada?). Mas nem com todos esses sinais nos contentamos, continuamos a querer provar sei lá pra quem que somos máquinas, e até mesmo escravos de um senhor imaginário que nos cobra a perfeição. 

E além dos nossos problemas físicos e mentais, há também a necessidade de se estar com a família, filhos terceirizados são uma das causas desta epidemia declarada pela OMS. Isso pode parecer bobagem quando temos uma bolha que não nos deixa enxergar além do nosso grupo social (viva o facebook), mas é uma grande tragédia em níveis mundiais. Mas quem sabe o objetivo seja diminuir a população, e aí estaremos sendo bem tiranos em não dar a mínima pra isso!