terça-feira, 30 de janeiro de 2018

O olhar ao outro que recai em mim


Nada escapa da santa inquisição. Hábitos sociais medíocres são alvo de desmoralização perante a nobre presença. O olhar sobre o banal ou corriqueiro afasta a possibilidade de qualquer aproximação. Vários itens estão na lista do homem comum incompatível com o olhar inquisidor: cerveja, barba, rock, arnaldo antunes, frases de efeito relativas ao que mais se sonha e menos defini-se: liberdade. Ué, mas que sonho mais besta de se sonhar: liberdade no mundo do consumo? 

Ué, sem sonho não há vida, apenas realidade. As amarras, quando conhecidas, não nos deixam a liberdade do voar, um viva à diversão mundana, que é o nos sobra para passar esses infinitos anos que nos são impostos. Serei eu, que apenas a barba não uso por questões biológicas, destruída em meu castelo, me colocando diariamente contra a parede: até quando aguentarei ser algo que nem sei se consigo mais construir? Não me pese a alma mais do que já é, pois sou retalhos daquilo e mais disso, e nem sempre o disso sobrevive sem o daquilo. 

sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

O Foco e a Fé


O foco não é o mesmo, simplesmente isso. Deve ser esse o argumento que uso comigo por não compreender o que escuto, vejo, percebo, vivo. 

O homem entra na panificadora. Um homem. Nada mais que um homem. 

Mas ele era negro. Mas ele pobre. Mas ele mais que pobre, era maltrapilho. Com poucos dentes, com roupas esfarrapadas. Não estava fedendo e nem bêbado, de pejorativo apenas os “mas”. 

Ao entrar as pessoas, sim pessoas, homens, mulheres e todas as outras opções, repararam naquele homem. Algumas repararam nas pessoas que reparavam o homem. Pois há um clima tenso no ar de que qualquer ação pode ser certa, ou errada. Mas aí só temos essas duas opções. E sair pela tangente requer jogo de cintura. 

As pessoas que se dirigiram ao homem disseram que não. Uma diz que o chefe não está. Essa pessoa, pelo que sei, é a chefe. Mas para se isentar da responsabilidade de negar algo, se posiciona como subalterno, algo que seu nariz empinado não permite em outras ocasiões.

Ao perceber o homem sair, uma mulher diz que lhe dá pão, paga o pão para o homem. Eu, que estava perto da mulher, não escutei o que o homem pediu, apenas o não da mulher, discreto, mas audível. 

O homem diz que não quer pão, pois tem muitos. Quer apenas um café com leite. A dignidade do homem está ali. Ele não quer uma coisa, quer outra. Mas e daí, que dignidade um homem com tantos “mas” pode ter? Mas ele tem. 

E sim, dê o café com leite a ele, por favor. A dignidade deste homem merece um café com leite, com açúcar e colherinha…deveria ter dado um copo de isopor também, afinal, eu pago. 

O homem saiu. Com seu café. 

Uma mulher agradece a pessoa pela atitute…ao que se é respondido que apenas algumas pessoas têm direito a caridade, já outras são mentirosas. Como isso pode ser tão claro? Bem, é o foco.